Educação social: veja como essa empresa está ajudando gaúchos a reconstruírem o próprio negócio

18 de outubro de 2024 - 0 min pra ler

Acesse a reportagem original aqui.

Empreender acaba sendo a principal saída profissional para pessoas em situação de vulnerabilidade. Segundo um estudo divulgado em 2023 pelo Instituto Locomotiva, 50% dos moradores de favela empreendem, o que somam 5,2 milhões de empreendedores – e destes apenas 37% tem CNPJ. Foi para mudar a realidade de pessoas carentes que o gaúcho Vinícius Mendes Lima criou em 2014 o Grupo Besouro, empresa que ensina pessoas comuns a criar o seu próprio negócio.

A empresa atua hoje em todo o Brasil, mas com as recentes enchentes no Rio Grande do Sul, o Grupo intensificou suas ações no estado atendendo empreendedores afetados pelas enchentes. "Sempre atuamos no Rio Grande do Sul, mas agora estamos dando um olhar diferente devido à situação atual," afirma Vinícius. “Não estamos focando apenas em pessoas que vivem em comunidades, mas sim todas que foram de alguma forma atingidas pelas enchentes”.

O trabalho do Grupo Besouro busca ajudar na recuperação econômica do Rio Grande do Sul. “Ao capacitar pequenos empreendedores, a organização ajuda a revitalizar a economia local, gerando empregos e melhorando a qualidade de vida nas comunidades afetadas”, afirma Lima.

É o caso da Carolina da Silva Alvarez, que mora em Porto Alegre. Ela fez o curso de empreendedorismo da Besouro durante a pandemia e iniciou um ateliê onde vende roupas, canecas, chinelos, papelaria e outros produtos personalizados. Seu negócio e sua casa foram muito atingidos pela enchente deste ano. “Passei pela enchente em novembro do ano passado e em maio deste ano, mas dessa última foi muito pior, tanto que tive que sair de casa, porque a água só subia. Depois veio a preocupação com as contas e como eu e meu marido íamos alimentar nossos filhos. Perdi muito insumo de trabalho, como notebooks, impressora, materiais e até bancada”, afirma Alvarez que hoje também é consultora da agência Besouro.

Alexandra de Sá, moradora da cidade Sapucaia do Sul, criou a sua confeitaria em 2019 que acabou sendo impactada financeiramente pelas enchentes. “O curso me tirou da zona de conforto. Queria fazer mudanças, mas tinha medo de abrir a empresa, mas fui com frio na barriga mesmo assim. Agora não sou mais amadora, estou na vitrine”, diz a empresária que não conseguiu faturar nos meses de maio e junho. “Em maio, o que me salvou foi que eu fiz voluntariado e um empresário de São Paulo fez uma compra que me ajudou. Espero ter mais pedidos nos próximos meses para colocar em prática o que aprendi no curso”.

De maio até o momento, Lima afirma que o Grupo Besouro levou educação para cerca de mil empreendedores no Rio Grande do Sul.

Como tudo começou

Nascido e criado no bairro periférico de Vila Nova, em Porto Alegre, Lima começou a empreender aos 12 anos, vendendo crepes para evitar pedir dinheiro aos pais.

"Transformei esse negócio em pequenas unidades na frente de escolas e depois dentro de escolas particulares," conta. Essa experiência inicial levou à criação da primeira empresa, a Shock Produtora, uma produtora de formaturas que se tornou uma das principais do Brasil.

A mudança de rumo veio quando Lima se mudou para o Rio de Janeiro e começou a se envolver com projetos sociais. Em parceria com a MGN Consultoria e o Unibanco, participou do programa "Estudar Vale a Pena," focado em jovens de escolas públicas. "Foi aí que comecei a conduzir jovens a empreender, o que me levou a criar uma metodologia para ensinar jovens em situação de vulnerabilidade social a abrir pequenos negócios," diz Vinícius.

Em 2014, após concluir seu mestrado em Administração e Marketing, Lima fundou o Grupo Besouro de Fomento Social. A metodologia desenvolvida por ele, chamada "By Necessity," tem como objetivo ensinar pessoas em situação de vulnerabilidade a empreender de forma sustentável. "Hoje, mais de 150 mil brasileiros já passaram por essa metodologia," afirma Vinícius.

Como funciona a formação?

A formação empreendedora é gratuita e ocorre por meio de parcerias com governos, instituições, como a Fórum Mulher Empreendedora Gaúcha (FMEG), e grandes empresas, como a Gerdau e a Bat Brasil. Os alunos saem com um plano de ação pronto para abrir o negócio, e recebem monitoria nos três primeiros meses sobre como divulgar a marca, como funciona um fluxo de caixa e como contratar um funcionário, por exemplo.

Só em São Paulo, em 2023, o Grupo Besouro capacitou 8.345 jovens, de 139 bairros em 341 turmas, no “Meu Trampo”, projeto para a Prefeitura de São Paulo.

A resiliência em empreender

O maior desafio para o Grupo Besouro nesses 10 anos de atuação não é o público que atende, mas sim convencer o poder público e a iniciativa privada de que essas pessoas têm potencial, afirma Lima. "A parte mais difícil é convencer que essas pessoas podem ser grandes empresários," diz ele.

A resiliência é uma característica essencial dos empreendedores por necessidade, tanto que o nome escolhido, ‘Besouro’, trata a resiliência dessa população. “Besouro é um inseto que sobrevive em condições adversas. Nossa hashtag é #voabesouro, porque queremos que essas pessoas não apenas sobrevivam, mas também voem com os seus negócios”.


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