Empreendedorismo de base: a força da economia local nas comunidades

O empreendedorismo de base tem se mostrado um dos principais motores da economia nas comunidades periféricas e favelas do Brasil. Pequenos negócios não apenas geram renda, mas também promovem transformações sociais significativas, ampliando oportunidades e fortalecendo os vínculos comunitários. De acordo com o Sebrae, os micro e pequenos empreendimentos representam cerca de 27% do PIB nacional e são responsáveis por cerca de 70% dos empregos formais no país.
Para Nínive Loriani (ou Nina, como é mais conhecida), coordenadora de projetos do Grupo Besouro e moradora de Heliópolis, em São Paulo, as comunidades são verdadeiros laboratórios de inovação. “As comunidades, e em especial as favelas, representam núcleos importantes de criatividade, onde os desafios do cotidiano geram soluções empreendedoras adaptadas à realidade local”, afirma. Segundo ela, o espírito empreendedor está fortemente presente nas periferias, onde pequenos negócios se estruturam a partir do apoio coletivo e do entendimento das necessidades locais.
A importância da comunidade para os empreendedores
Em comunidades, o boca a boca tem mais valor do que qualquer campanha publicitária. Pequenos comércios se sustentam pela indicação de clientes satisfeitos, enquanto empreendedores encontram suporte em redes solidárias. Para Nina, esse aspecto é fundamental: “A atividade empreendedora nessas regiões fomenta uma rede de apoio comunitário que estimula parcerias, troca de conhecimentos e geração de empregos, promovendo um desenvolvimento econômico e social mais sustentável”.
A história de Nayara Sthefany, dona do salão de beleza @_mundoodelas, exemplifica esse fenômeno. Ela abriu seu negócio para conciliar a vida profissional com os cuidados do filho autista. “Eu era funcionária de um salão por quase três anos, mas quando meu filho recebeu o diagnóstico, precisei me reorganizar. Abrir meu próprio espaço foi a melhor escolha que fiz”, conta.
O Meu Trampo, projeto de fomento ao empreendedorismo do Instituto Besouro, teve papel essencial nessa jornada. Nayara aprendeu a diferenciar as finanças pessoais das do negócio e a fortalecer a gestão do salão, ampliando suas possibilidades. Hoje, emprega quatro pessoas e sonha em se tornar referência em sua região. “Empreender é um desafio, mas eu fui com medo mesmo. Hoje, minha família me apoia e reconhece que empreender também é trabalho”, ressalta.

Dicas para quem quer empreender em comunidades
Nina enfatiza a necessidade de conhecimento e conexão com a realidade local. “Minha principal dica é conhecer a fundo a comunidade onde se atua, valorizar o diálogo com os moradores e construir parcerias com líderes e organizações locais”, orienta. Para ela, a resiliência e a inovação são elementos-chave para superar desafios. “Nunca deixe de estudar. Buscar conhecimento é essencial para se reinventar diante das dificuldades”, destaca.
Outro fator crucial é a criação de uma rede de contatos. Empreendedores devem se conectar com outros negócios e clientes em potencial. A presença digital também é uma ferramenta poderosa. Pequenos empreendimentos têm ganhado espaço ao utilizar estratégias como divulgação em redes sociais, promoções e programas de indicação.
O papel do projeto meu trampo
O Meu Trampo tem sido um grande aliado dos empreendedores de base, oferecendo suporte e capacitação para quem deseja iniciar um negócio. O projeto atende jovens a partir dos 15 anos em escolas públicas, organizações sociais e espaços públicos, incentivando a autonomia profissional.
“O nome já é uma opção de inovar”, explica Nina. “Nosso trampo não precisa ser apenas CLT. Podemos ter autonomia, aprender a empreender e construir nossa própria trajetória”. A metodologia do programa, chamada By Necessity, foi criada por Vinícius Mendes Lima e se baseia na análise FOFA (Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças). Desde 2023, mais de 17.000 alunos passaram pelo projeto, e a expectativa é de crescimento em 2025.
Nina ressalta que um dos grandes diferenciais do Meu Trampo é o fato de que a maioria dos profissionais envolvidos também vem de comunidades. “A linguagem, a empatia e o entendimento da realidade local fazem toda a diferença. O impacto é genuíno porque as pessoas sabem que nós realmente entendemos suas dificuldades”, reforça.
Empreender é transformar
O empreendedorismo de base vai além da geração de renda. Ele empodera indivíduos, fortalece laços comunitários e impulsiona o desenvolvimento local. Pequenos negócios são agentes de mudança, criando oportunidades e ressignificando o conceito de trabalho em comunidades.
A história de Nayara e de tantos outros empreendedores mostra que, quando a comunidade se fortalece, todos crescem juntos. O Meu Trampo, junto ao Instituto Besouro, segue cumprindo um papel essencial na transformação desses territórios, ampliando horizontes e fomentando uma nova geração de empreendedores que acreditam em seu potencial e no poder da coletividade.
Visualizações