Diogo Oliveira: espiritualidade, empreendedorismo e o sonho de ensinar
Formatura de alunos no curso de cartomancia Diogo Oliveira
Negro, gay, praticante de candomblé.
Assim se define Diogo Oliveira, carioca de 36 anos, morador de Realengo, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Proativo, ele se desdobra para conciliar o trabalho com carteira assinada, como manipulador de alimentos em uma escola pública, e as atividades de cartomante, professor de cartomancia e Babalorixá.
Foram dois os maiores desafios da vida de Diogo: se assumir gay e vencer a gagueira.
O segundo, uma marca entre os homens da família, era uma dificuldade enfrentada desde criança. Apaixonado por música, passou por muitas decepções, até que decidiu se desafiar no teatro e venceu a dificuldade fazendo tratamento com fonoaudióloga e aulas de canto.
A atividade artística, oferecida em um espaço cultural público no bairro, foi um divisor de águas na sua vida. Além de desenvolver a autoconfiança, foi ali que conheceu a fonoaudióloga com quem passou a fazer sessões. “O teatro me deu cultura, me deu a fono e me mostrou que, mesmo gago, eu era capaz de ser o que eu quisesse… Você faz tantos personagens, que percebe isso: que pode ser tudo… inclusive na vida real”, compartilha Diogo.
Ele explica, porém, que a gagueira não tem cura: “O que podemos fazer é aprender a lidar com ela, controlar o descompasso com o cérebro, que anda mais rápido do que a fala”. Essa condição sempre deixou Diogo inseguro e distante de seu sonho profissional: dar aulas.
Em 2023, isso começou a mudar.
Diogo decidiu desafiar-se ainda mais a vencer a gagueira e começou a fazer aulas de canto, onde conseguiu superar seus medos. “Eu amo canto! Descobri que me acalma, é onde eu me entrego, me realizo”. Foi depois dessa superação que Diogo acessou, em maio desse ano, uma nova oportunidade: o curso de empreendedorismo Gerdau Transforma, onde mais uma vez foi estimulado a vencer as próprias limitações.
Com a capacitação, teve a orientação e o impulso que precisava para expandir sua atividade e começar a ministrar cursos de cartomancia. E em pouco mais de seis meses, está colhendo resultados: “Quando você tem um caminho, mais cedo, ou mais tarde irá chegar até ele. Eu não tinha visão de negócio. Aprendi sobre gestão, preços, investimento. Recebi muita ajuda e hoje dou aulas online e presenciais, abri meu espaço físico, estou formando minha primeira turma e me preparando para iniciar a segunda. Coisas que antes eram impossíveis. E isso tudo graças ao curso”, celebra Diogo.
A chave para a mudança: espiritualidade e persistência
A ligação forte de Diogo com a espiritualidade e as religiões de matriz africana vem de família, herdada dos avós que atuavam na Umbanda e no Candomblé. Aos 17 anos, veio à tona sua mediunidade; aos 19, fez sua iniciação no Candomblé; e aos 24 atendeu ao chamado para se comprometer ainda mais, atuando como Balorixá, função espiritual popularmente denominada no Brasil como Pai de Santo.
Diogo ressalta a importância da conexão com a espiritualidade para os povos de origem africana no Brasil. “Nós, negros, sofremos desde séculos atrás. O que nos sustentou foi sempre a fé em nossos ancestrais e orixás. Hoje, estamos conseguindo ocupar espaços e sermos respeitados, tanto como seres humanos como no aspecto profissional”, reflete.
Também para si, Diogo considera ter sido a orientação espiritual que sustentou e fortaleceu sua trajetória. “Sou muito grato ao meu pai de santo, que sempre me estimulou a ir adiante, confiar em mim mesmo e no meu trabalho”.
Para ele, o primeiro passo para empreender e ser bem-sucedido é o bem-estar pessoal. “Antes de se formar, atender pessoas, você tem que estar com você mesmo”, explica o instrutor, que pretende qualificar-se ainda mais fazendo um curso de psicanálise holística para ampliar ainda mais o potencial de seu trabalho.
O futuro à frente do próprio negócio
A próxima turma de cartomancia oferecida por Diogo será uma ação social voltada para o público LGBTQIA+. A iniciativa, batizada de Toda Forma de Amor, será executada em parceria com a Escola de Samba Unidos de Padre Miguel. “O público trans é muito massacrado, humilhado, afetado pelo preconceito. Existe um tabu de que essas pessoas só podem trabalhar com salão de beleza ou como garotos de programa. E isso não é verdade. Quero ajudar nessa luta para que a sociedade aceite e respeite as pessoas trans”, destaca Diogo.
Atualmente, Diogo trabalha como preparador de refeições. Com o sucesso da Rosa Amarela, sua escola de cartomancia, ele planeja deixar a função para empreender no ensino da cartomancia, atividade que pode lhe render o triplo do que consegue no emprego formal. Para isso, seus planos incluem criar conteúdo digital e gravar podcasts e vídeos para vender seus cursos pela internet em uma plataforma de e-commerce. “Agora, a gagueira não me impede mais. Consigo atender e dar aulas, e minha intenção é expandir meus conhecimentos”, comemora Diogo.
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