De grão em grão se faz pipoca gourmet

26 de março de 2024 - 0 min pra ler

Submetidos ao calor, grãos de variedades específicas de milho têm sua umidade interna transformada em vapor, e ele exerce pressão sobre a casca até um ponto em que ela explode e nos faz felizes. Grosso modo, é assim que se obtém a pipoca, prato cuja origem é atribuída a indígenas do continente americano e tornou-se sinônimo de prazer e diversão, pois é normalmente associado a momentos positivos, como uma ida ao cinema, um passeio no parque, uma reunião em família ou uma festa de aniversário. É a preparar essa iguaria de uma maneira bem especial que se dedica, desde 2022, Midiã de Jesus Barbosa Almeida, 34 anos, dona da LaLaLé Pipocas Gourmet, em Salvador, capital baiana. 

A soteropolitana lembra de estar na cama, a orar e refletir sobre como poderia obter renda, contribuir nas despesas domésticas e atender aos desejos e demandas de suas três filhas, Lavínia, de 13 anos, Laís, de 11, e Léia, de 9. Era madrugada e ela se sentiu impelida a olhar o celular. “Quando abri o Instagram apareceu o anúncio de um curso de pipoca gourmet, com três aulas gratuitas. Desde a minha adolescência tenho prazer em preparar o prato. Amigos e familiares sempre pediam para que eu o fizesse. Senti que aquela publicação era uma resposta às minhas orações e que ela indicava uma oportunidade de eu trabalhar com uma coisa de que gosto muito”, detalha a empreendedora.

Midiã acompanhou as aulas na internet, mas sua pouca renda a impediu de continuar no curso. Ainda assim, a experiência foi importante para ratificar sua decisão de empreender no ramo. “Os grãos usados para preparar as pipocas gourmet são diferentes dos comuns, que compramos normalmente no supermercado. Sempre gostei de coisas diferentes. E foi outro motivo pelo qual me apaixonei”, recorda ela. O milho a que se refere Midiã é o chamado “mushroom”, que ela encomenda de São Paulo. O diferencial dessa variedade está implícito no nome: ao estourarem eles originam pipocas arredondadas, cujo formato lembra o de um cogumelo (mushrooms, em inglês).

O conhecimento adquirido nos três encontros virtuais gratuitos, ainda que tenha sido pouco, foi importante para a dona da LaLaLé avançar em técnicas que conhecia, mas ainda não dominava perfeitamente, como a de elaboração do caramelo que reveste as pipocas doces. Passou a fazer testes até acertar a mão e, enquanto isso, encontrou outra oportunidade de capacitação com preços mais acessíveis. Investiu, basicamente, em uma pipoqueira elétrica –  os demais utensílios usados foram os que já tinha em casa – e iniciou a produção. Elaborou sua própria logomarca no Canva e passou a divulgar seu negócio via Instagram. Também optou por promover eventos de degustação dos pratos em sua casa. 

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Midiã buscou conhecimento para encontrar a receita ideal para o preparo de suas pipocas gourmet. Foto: Arquivo pessoal

Começaram, de fato, a surgir clientes, mas Midiã percebeu que ter o produto preparado para pronta entrega não seria o melhor caminho. Afinal, o milho mushroom tem custo mais elevado e ter sempre pipocas à disposição poderia acarretar desperdícios. Decidiu, então, focar na oferta do prato como lembrancinha em festas e datas comemorativas e passou a elaborá-los sob encomenda. “Quando eu recebo um pedido já faço um pouco a mais de pipoca para vender a quem quer comprar para consumo imediato”, explica a empreendedora.

Logo que começou seu negócio, Midiã foi procurada por uma empresa de São Paulo interessada em fazer uma encomenda. No entanto, a venda não se concretizou porque a LaLaLé era um empreendimento ainda informal e, assim, não podia emitir nota fiscal para o cliente. Nesse momento, ela percebeu que precisava entender sobre como regularizar seu negócio, e nesse aspecto – entre outros – o programa Brasil+Empreendedor a ajudou

Midiã foi aluna na iniciativa da Confederação Nacional dos Jovens Empresário (Conaje) em parceria com a Agência Besouro, criada para capacitar pessoas para abrirem ou aprimorarem negócios. “A partir do curso eu consegui me levar mais a sério, levar meu negócio mais a sério. Ele clareou minha mente sobre a importância de ter uma educação financeira, me deu um norte sobre onde quero chegar e sobre estratégias que posso adotar. Ter tido, no Brasil+Empreendedor, mentoras que me ouviram e foram pacientes comigo me fez ter prazer em aprender e perceber que preciso estar rodeada de pessoas que tenham o mesmo objetivo que eu”, garante Midiã.

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A empreendedora exibe orgulhosa os doces que produz na LaLaLé. Foto: Arquivo pessoal

A empreendedora já alcançou um de seus objetivos de vida recentemente: voltar aos estudos. Ela caminha rumo à conclusão do Ensino Fundamental. A curto prazo deseja especializar-se mais no ramo de pipocas, aumentar a produção e adquirir equipamentos que a ajudem nisso. Quer, assim, alcançar a maior quantidade de clientes possível, com produtos de alta qualidade. “Também gostaria de criar variações de pipocas para atender todo tipo de pessoas, como celíacos e intolerantes, e desenvolver até uma linha fit”, conta. A médio prazo, imagina abrir a primeira pipocaria do subúrbio de Salvador e proporcionar alegria, sabores e bom gosto para seus clientes e para a sua família

“Com certeza empreender me ajudou a ter mais confiança, a me sentir útil. Mesmo diante de dificuldades que surgiram em alguns momentos, nunca pensei em desistir. Sei que o meu negócio tem potencial e que vou conquistar meus sonhos por meio dele. Vejo-me como uma futura geradora de empregos e como uma mulher sem medo de ser dona da sua vida. Quero mostrar também às minhas filhas que elas são capazes de tudo que elas quiserem”, conclui Midiã.


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